Blog sobre Webdesign, ou melhor, Design de Interfaces Web, ou melhor, ou melhor, Arquitetura da Informação, ou melhor: leia e discuta sem se preocupar com o nome do ofício.
Assunto Arquitetura da Informação
A definição de Arquitetura da Informação é o "estudo da organização da informação que permite ao usuário chegar ao entedimento". Na prática, ela se refere à organização da estrutura de um website e seu conteúdo, rotulagem e categorização da informação e o design dos sistemas de navegação e de busca.
Após algumas semanas sem dormir direito, terminei finalmente meu Trabalho
de Conclusão de Curso em Jornalismo. O assunto, é claro, tinha
que ter a ver com Web:
Design
Centrado no Usuário para o Website da Universidade Federal do Paraná
[DOC / PDF - 2MB - 93 páginas] e o Protótipo Final [Flash - 400Kb]
O portal da UFPR (www.ufpr.br) permite o acesso a mais de 200 páginas
através de menus de navegação. 35% de seus usuários
relataram já terem se perdido navegando pelo website e 60% gostariam
que ele fosse mais organizado. O website precisa de uma nova arquitetura e design
da informação e, conseqüentemente, novo design gráfico
que levem em conta as necessidades e comportamento dos usuários. Para
tanto, é proposta a metodologia de Design Centrado no Usuário,
contextualizada para a Web por Garret. Sua principal característica é
o ciclo iterativo de definir-testar-avaliar, envolvendo usuários a cada
ciclo, através de testes com protótipos de papel, card-sorting,
entrevistas e etc. O tempo gasto nos testes é compensado seja qual for
a métrica de sucesso (satisfação, conscientização
de marca, corte de custos em suporte, etc). Apesar do usuário não
interagir com o website e sim com quem está por trás dele, a deficiência
na sua interface pode ofuscar uma política saudável de relacionamento
com clientes.
O objetivo do trabalho não era propor um
novo website, mas sim a metodologia para a reestruturação
dele. Por isso, cada método está descrito em detalhes e sua origem
está devidamente reconhecida. Cada decisão do projeto teve sua
justificativa. É um bom exemplo de design racional, o mais adequado para
esse tipo de website.
Quem acompanha este blog há algum tempo já deve ter visto os
destaques
do projeto que ia colocando na medida em que estava sendo desenvolvido.
Porém, alguns dos leitores me perguntaram como é que se inseriam
os métodos dentro de seus projetos. Espero que agora entendam a mecânica
do negócio.
Por favor, não pensem que estou sugerindo que todos os projetos sejam
iguais a esse. Percebam que a cada novo método, explico porque ele foi
escolhido e a variante adotada. Se esse projeto fosse aplicado na prática,
por exemplo, eu faria testes com maior confiabilidade, envolveria a administração
da Universidade nas tomadas de decisões e teria uma porção
de outras variávies que nem posso prever.
Por isso, o que espero que vocês entendam é a idéia de
envolver usuários do começo ao fim do design, mantendo uma visão holística do produto final. Como isso será
feito, fica a cargo do designer. Além dos métodos que descrevi,
existem muitos outros.
O trabalho ainda sofrerá as alterações sugeridas pela
banca de professores e por vocês, caros leitores. Quem estiver em Curitiba,
está convidado para a apresentação do trabalho para a banca
na sexta, 16 horas, no Campus Juvevê da UFPR.
Apesar da cacofonia, o que quero dizer é que num projeto de interface
com o usuário, é preciso estabelecer um ciclo do tipo entender
> criar > testar. Cada etapa deve se repetir, até que o produto
alcance as metas desejadas de satisfação do usuário. É
claro que não estou sugerindo que batamos a cabeça contra a parede
até que ela caia, até porque isso é impossível (design
perfeito não existe).
Devemos contemplar as etapas do ciclo em etapas crescentes, seguindo a analogia
da espiral (mola). Veja na animação abaixo as etapas de um design
centrado no usuário sugeridas pelo Jesse James Garret contempladas pela
minha analogia da espiral:
Primeiro você começa entendendo o as motivações
do projeto, seu público-alvo e etc. Depois esboça soluções
e testa o mais rápido possível com alguns usuários. O resultado
deve ser analisado e as lições aprendidas, incorporadas no novo
esboço. Essa técnica se repete enquanto os esboços vão
ficando cada vez mais detalhados, até chegar ao produto final.
Hoje realizei alguns testes com um protótipo que se assemelha de longe
com a versão final do produto. Só continha as opções
dos menus principais de navegação, mais nada. Meu objetivo era
validar a estrutura de navegação que antes já havia sofrido
a iteração do card-sorting.
Tive a excelente idéia de usar um Palm ao invés dos protótipos
de papel que a literatura recomenda. Além da motivação
extra para os usuários que ficaram impressionados com a nova tecnologia,
pude realizar o teste com o usuário em pé e numa velocidade incomparável
a alternativa de papel. Imagine carregar 50 folhas de papel, cada uma representando
uma página?
Apesar do Palm oferecer algums problemas no quesito tamanho da fonte, interação
complicada e número limitados de linhas, creio que esses fatores não
tenham afetado muito meu resultado. Só poderia confirmar isso se fizesse
os mesmos testes usando papel, mas não tenho tempo para isso. Aliás,
eu deveria realizar mais uma bateria de testes como esse para verificar se minhas
alterações em decorrência do teste realmente melhoraram
a solução, mas infelizmente meu tempo está acabando. Trabalho
acadêmico é assim mesmo, sempre deixamos para a última hora
e o resultado é meia-boca (pelo menos na minha faculdade é assim...).
Fiz o teste orientado a tarefas, aplicando aquela técnica de criar
cenários motivadores para os participantes do teste. Não houve
rejeições, pelo contrário, alguns até deram risada.
Bom-humor facilita muito para conversar com pessoas que nunca vimos na vida.
Dê uma olhada no roteiro
de tarefas [DOC] propostas aos usuários e veja como não é
difícil aplicar essa técnica. Depois, veja a planilha
com os resultados [Excel] de cada teste e as mudanças que eles acarretaram
ao diagrama de navegação que, por enquanto, está assim
[WMF]. Se alguém tiver soluções para os problemas que ainda
não consegui resolver, por favor, me ajude.
O buraco a que me refiro é aquele jogo de cartas cujo objetivo é
juntá-las em sequências lógicas, formando trincas e canastras.
O card-sorting é uma técnica usada por arquitetos da informação
para descobrir como o usuário classifica determinada informação
em sua mente. Gosto de buraco, mas card-sorting é ainda melhor porque
não depende da sorte para o jogador ganhar!
Ontem terminei de aplicar a técnica com 19 usuários do website
da UFPR e estou muito feliz com o resultado. O procedimento foi bem simples:
Escrevi 20 cartões (10x7cm) que descrevem determinados conteúdos
que estão contidos no website atual (para isso foi tão importante
o inventário
de conteúdo), por exemplo:
Orientação vocacional, explicação
sobre cotas, Provar, processo seletivo para pós-graduação,
semana do trote, prova do vestibular, estatísticas
Agrupei os cartões em 11 categorias, formando o esboço da
taxonomia do website. Criei mais outras 6 categorias alternativas que poderiam
ser escolhidas pelos usuários
No total, foram 17 cartões de categorias (17x5cm) para classificar
os cartões de conteúdo, tais como: Academia, Administração,
Entrar na UFPR, etc.
Fui para as bibliotecas da universidade porque lá tem mesas e usuários
não muito ocupados
Perguntei se o usuário tinha 5 minutos para responder uma pesquisa
acadêmica e, caso sim, expliquei que bastava que ele pegasse um cartão
do monte e escolhesse a categoria mais adequada. Apesar de ter 17 categorias
no total, só poderiam ser usadas 10 no máximo. A mesa ficou
mais ou menos assim:
Anotei quando os usuários não entendiam alguma categoria ou
conteúdo do cartão e quando faziam alguma observação
Anotei os códigos contidos atrás de cada cartão, relacionando
ao código da categoria escolhida (nos cartões eram letras de
"a" a "q", nas categorias, números de 1 a 20)
Levei o resultado para casa e coloquei no modelo de planilha do Excel que
esse
tutorial explica como usar
À partir do resultado gerei a taxonomia final do website
Vocês lembram das análises heurísticas dos portais de universidade
né? Pois bem, agora comparei a arquitetura da informação
do website da UFPR com similares. A análise
heurística foi fácil porque é mais fácil encontrar
defeitos na capa do livro do que no seu conteúdo, ou melhor, na sua organização.
Como nunca tinha lido nada sobre esse tipo de análise, fiz umas buscas
tentando encontrar algum procedimento semelhante à análise
heurística, mas que não fosse apenas uma lista de verificação
(checklist), para que me desse margem à comparações mais
qualitativas.
Apesar de boas, elas estavam direcionadas mais para uma estratégia
de baixo pra cima do que cima para baixo. Explico.
Como estou analisando os websites do lugar de quem vê de fora, não
tenho acesso aos procedimentos utilizados para a construção do
website, a tal da estratégia de baixo para cima (ou no inglês bottom-up).
Não sei os metadados, o algoritmos das buscas e etc. Porém, posso
analisar o website à partir daquilo que vejo, penetrando até onde
der. Isso é de cima para baixo (top-down). Posso analisar os rótulos,
os menus de navegação, os agrupamentos, a hierarquia e vários
outros aspectos da arquitetura.
Ô coisa chata de fazer! Mas, como fazer o re-design de um site sem conhecê-lo
como a palma da sua mão? Quero propor uma nova organização
para o website da UFPR, mas antes preciso saber
exatamente o que estarei organizando. Para isso, fui clicando em todos os links
que haviam na página inicial e nas secundárias e anotei todos
os pedaços de conteúdo que encontrei (content chunks, em inglês).
Se por acaso, estivesse arquitetando um website que ainda não existe,
iria entrar em contato com todos os manda-chuvas do projeto (stakeholders) para
descobrir o que eles pretendem colocar dentro do website. Seria mais trabalhoso,
mas não haveria escolha.
O Inventário de Conteúdo tem só 5 páginas porque economizei verbo. Poderia ter
sido mais descritivo em cada item, mas já que esse inventário
foi escrito só para mim e não para ser compartilhado com uma equipe,
nem discutido com manda-chuvas, escrevi só o necessário para ativar
minha memória. Em cima desse documento, rabiscarei rótulos e agrupamentos
menores. Depois, acho que vou usar um método chamado Diagrama de Afinidades
(affinity diagram) para criar agrupamentos maiores. O objetivo é chegar
na taxonomia principal do website. Falarei mais disso na sequência.