Hack no Orkut

No post sobre ciúmes incentivado pelo Orkut, apontei a obrigatoriedade do recado (scrap) público como principal estopim para crises em relacionamentos amorosos. O scrapbook é uma ferramenta poderosa nas mãos de quem quer causar ciúmes. Basta deixar um recadinho insinuador para a namorada ciumenta cair em cima do pobre dono do scrapbook. Como é aceitável deixar mensagens particulares no scrapbook público, os encrenqueiros fazem a festa.

O scrapbook não foi feito para trocar mensagens particulares, mas na falta de uma alternativa mais ágil ou para demonstrar popularidade, as pessoas usam assim mesmo. Até existe a opção de mensagem privada, mas devido ao spam algumas pessoas escolhem não recebê-las. Entretanto, alguns leitores comentaram que existe um hack para enviar mensagens privadas facilmente: através dos depoimentos.

A primeira vez que alguém usou esse hack comigo fiquei bastante surpreso e guardei uma captura de tela:

Interessante essa conotação de mensagem secreta auto-destrutiva. Um dos leitores comentou que os depoimentos são "a máfia do Orkut". A sensação de estar hackeando o Orkut deve ser um dos principais motivos pelo qual a prática está se difundindo tanto.

No depoimento acima, minha amiga está vestida com a camiseta do seu candidato à Presidência da República. A foto do perfil não foi feita para fazer campanha eleitoral, mas as pessoas começaram a usar para esse fim. A campanha oficial do Geraldo Alckmin incorporou o hack, oferecendo um "adesivo virtual" para colar na sua foto.

Outro hack incorporado foi o link para responder recados logo abaixo do próprio recado. Cansado de ter que clicar no perfil da pessoa, entrar no scrapbook dela para só depois escrever a resposta, o hacker Ajay Martin criou o hack Orkut Scrap Helper, uma extensão para o Firefox que adiciona uma caixa de texto e um botão para envio logo ao lado dos recados.

10 dias depois do seu lançamento, o Orkut havia incorporado a solução do rapaz, de uma forma mais elegante:

Devo dizer que esses links "responder" embaixo de cada recado exercem certa pressão sobre mim para respondê-los. Agora que é tão fácil, não tem mais a desculpa de falta de tempo...

Outro hack externo é o Scrapboy, um programinha parecido com o MSN Messenger que te avisa quando chega um novo scrap e permite responder por ali mesmo. Segundo reportagem da Capricho, os criadores do programa (israelenses) perceberam o quanto os brasileiros se preocupavam em checar seus scraps frequentemente e o quanto isso era complicado (digitar url, logar e clicar em recados, isso sem falar nas mensagens de sobrecarga do servidor).

Será que a Google vai incorporar esse hack? Será que os scraps serão integrados ao Gmail ou ao Gtalk?

Só tenho certeza de uma coisa: independente das mudanças no Orkut, as pessoas continuarão a criar hacks para essa ferramenta e isso é ótimo! Hackear é uma atividade criativa que prescinde da crítica. É preciso refletir sobre a limitação do artefato em questão, é preciso gerar uma solução viável, é preciso divulgar sua solução. Tudo isso contribui para um papel mais ativo das pessoas no uso (e recriação) da tecnologia.

Como profissionais que dão forma à tecnologia, ao invés de temer o hack e se prevenir contra ele, devemos é incentivá-lo. O hacking pode ser uma atividade muito interessante para desenvolver produtos mais próximos dos usuários.

Alguém conhece mais algum hack do Orkut que eu não tenha citado?

• O design do Orkut incentiva ciúmes?
• Orkut é exemplo de Web viciante
• Pesquisa: "O Orkut em minha vida"

Você merece.

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