Quando se quer conhecer o contexto do usuário em profundidade, o mais indicado é a etnografia. Importado da Antropologia, o método consiste em ir a campo observar o usuário em seu próprio habitat realizando atividades de rotina. Ou seja, diferentemente do teste de usabilidade, a etnografia observa situações criadas pelo próprio usuário e não pelo pesquisador.
Em 2005, publiquei um podcast sobre Design de Interação e Antropologia em que apresento o método e relaciono-o com as intenções do Design de Interação de se diferenciar da Interação Humano-Computador. Eu dizia que esta última estava muito focada na interação com o computador enquanto que o Design de Interação tinha uma percepção mais ampla do contexto, considerando sua constituição social e cultural.
O modelo dos contextos que elaborei em seguida deixa esta distinção mais clara: enquanto a Interação Humano Computador expandiu os interesses da Computação para o contexto simbólico, o Design de Interação expandiu o interesse da Computação para o contexto social e cultural.
A etnografia foi importada da Antropologia para realizar tal visão, porém, muitos aspectos fundamentais foram deixados de lado nas aplicações em Design de Interação. Por exemplo, a intenção original de evitar o julgamento de uma cultura pela outra ainda não se converteu numa crítica ao etnocentrismo do design. Esse aspecto é fundamental, pois realiza o objetivo da Antropologia de descolonizar o pensamento, reconhecer o outro e refletir criticamente sobre sua própria existência.
Enquanto não se desenvolvem tais aspectos nas aplicações do design, eu prefiro chamar etnografias de estudos etnográficos em design. Os estudos etnográficos no design costumam ter um escopo e duração menor do que a etnografia antropológica, em parte pelo prazo curto de projeto, em parte pela falta de conhecimento dos designers sobre o assunto.
Em 2013, fiz um apanhado de vídeos sobre como fazer estudos etnográficos no meu blog em inglês. Agora, de volta ao Brasil, tive a oportunidade de produzir tutoriais em vídeo sobre o assunto em língua portuguesa. Estes tutoriais fazem parte do desafio Renault Experience 2.0 que a PUCPR desenvolveu junto com a Renault.
O primeiro tutorial apresenta a técnica de shadowing, que consiste em acompanhar um usuário em suas tarefas rotineiras. Mais detalhes sobre a técnica podem ser encontrados na Plataforma Corais.
Durante o shadowing, deve-se evitar de interromper o usuário para conversar. O pesquisador deve atuar como "uma mosca na parede" para que o comportamento seja o mais rotineiro possível. Caso haja a necessidade de compreender melhor as motivações do usuário, é melhor deixar para o fim da observação ou para outro dia.
Para compreender motivações, a técnica da entrevista contextual é bem mais indicada.
Minha técnica de entrevista tem influência forte das práticas de Jornalismo, devido à minha formação. A diferença principal é que o objetivo não é coletar afirmações interessantes para usar na notícia, mas de fato entender o que o usuário está falando além de desenvolver empatia. Mais detalhes podem ser encontrados na Plataforma Corais.
Por fim, explico como analisar os dados coletados sobre a rotina de um usuário através de uma planilha de Excel.
Os trabalhos enviados pelos estudantes até agora para o Renault Experience 2.0 tem demonstrado que realizar um estudo etnográfico não é difícil e traz insights valiosos para um projeto. Nossa intenção principal como organizadores do desafio era estimular os estudantes a sairem da frente do computador. Quando o desafio terminar, pretendo verificar o grau decontribuição dos estudo etnográficos para o desenvolvimento das melhores propostas de serviço ou produto.
Além dessas vídeo aulas, estou publicando também um áudio sobre o uso da Teoria da Atividade para orientar estudos etnográficos. Espero que tais materiais ajudem a consolidar a prática e elevar o nível da discussão em língua portuguesa.
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