A experiência do designer de experiências

Designers de experiências ou, como gosto de brincar, ExU designers, são profissionais especialistas em projetar experiências para outras pessoas. Para realizar seu trabalho, ExU designers precisam dominar diversas mídias, tecnologias e linguagens, além de lutar pela valorização do usuário dentro da organização em que está inserido.

Graças a esse escopo amplo de trabalho e causa nobre, ExU designers costumam se imaginar mais ou menos como heróis que salvam pobres usuários indefesos de programadores vilões. Esse imaginário não costuma ser discutido explicitamente na profissão, porém, aparece com clareza em animações como I Love UX Design e na história em quadrinhos UX Hero.

Apesar de achar divertido, eu não gosto de alimentar esse imaginário, pois acaba justificando a existência de designers que se consideram ou que são considerados pelos outros como superstars. Conforme Rodrigo Lemes deixou claro no Design Team, esse tipo de posição não é sustentável, pois o trabalho de ExU exige cooperação com outras áreas e muita humildade.

Eu prefiro alimentar o imaginário de que o bom ExU designer é aquele que possui um grande e variado repertório de experiências vividas e, por isso mesmo, consegue compreender as diversas experiências das pessoas com quem interage, sejam colegas de trabalho, sejam usuários. 

Embora a experiência de cada pessoa seja única e intransferível, quanto mais experiências parecidas uma pessoa tem com a outra, maior é seu nível de compreensão mútua. A aproximação não se dá pela equivalência, mas, sim, pela analogia. Não é necessário ter a mesma experiência. Na verdade, é melhor que a experiência seja diferente, para que haja a construção de novos significados. Aceitar e curtir diferenças é uma característica pessoal essencial para esse tipo de profissão.

Os melhores ExU designers que conheço são pessoas de cabeça aberta, que estão sempre em busca de novas experiências em sua vida. Gostam de viajar, preferem ouvir mais do que falar e tem uma profunda curiosidade por culturas diferentes. Eles sabem, mesmo que tacitamente, que no momento em que precisam projetar novas experiências, toda essa experiência passada se torna útil. 

Como se trata de um projeto situado, o projeto de experiências não possui regras universais bem definidas. O conhecimento utilizado pelo ExU designer para projetar não é explícito, é tácito, acumulado ao longo de anos. Apenas uma ínfima parte do conhecimento necessário é registrado por meio de heurísticas, que nada mais são do que uma síntese dessa experiência acumulada. Mesmo que existam centenas de heurísticas além das 10 de Nielsen, elas não ultrapassam a aplicabilidade do conhecimento tácito, difícil de verbalizar, das múltiplas experiências vividas por um designer em sua vida.

Portanto, quanto mais diversificada é a experiência de vida de um ExU designer, mais ele consegue entender e projetar para pessoas diferentes. A diversidade na vida pessoal acaba se refletindo também na diversidade daquilo que o trabalho proporciona. Essa diversidade vai muito além do domínio de técnicas, incluindo também experiências culturais, políticas, religiosas, esportivas, etc.

Por fim, vale citar que essa diversidade não é exclusividade do especialista em ExU. Na verdade, mais do que ter muita experiência, o designer ExU precisa, primeiro de tudo, reconhecer a experiência diversa dos outros, para, assim aprender com ela e colaborar. A humildade é uma virtude que mantém a mente aberta sempre que vamos interagir com outras pessoas.

Fred van Amstel ([email protected]), 08.01.2020

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