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Experiências que transformam pessoas

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Experiências que transformam pessoas

A busca por maneiras mais sustentáveis e justas de satisfazer necessidades e desejos em massa levou ao desenvolvimento do mercado de experiências. Em vez de explorar pessoas e recursos naturais para produzir algo que pode nem vir a ser utilizado pelo seu dono, a experiência é uma oferta que só existe quando é experienciada efetivamente. Como não exige posse, o preço desse tipo de oferta pode ser tão baixo que chega a zero.

Serviços digitais de comunicação instantânea, transporte privado, hospedagem, entregas, limpeza e aprendizagem sob demanda ofertam experiências a uma fração do preço da posse dos produtos necessários para a experiência. Devido à sua distribuição digital, esses serviços conseguem atingir níveis de customização e personalização impensáveis com infraestruturas analógicas tais como papel ou concreto. Por outro lado, infraestruturas digitais permitem influenciar comportamentos e decisões dos usuários em larga escala sem nenhuma transparência, chegando ao ponto de se tornar uma das principais ameaças contemporâneas à democracia. É o barato para o indivíduo que sai caro para a sociedade.

Empreendedores e designers de experiência estão, nesse momento, gerando uma nova onda de experiências que, em vez de conservar hábitos e satisfazer gostos existentes, promovem mudanças de hábitos, perspectivas e identidades. Segundo o clássico The Experience Economy de Joseph Pine II & James Gilmore (2011), a transformação pessoal é a oferta de maior valor na sociedade capitalista, mesmo que não possa ser garantida. Trata-se de uma experiência capaz de mexer com as estruturas basilares da consciência que, uma vez compartilhadas na cultura, promovem transformações sociais lentas e graduais.

Um exemplo é a Caminhada do Privilégio, que transforma pessoas desinformadas em pessoas conscientes do impacto do privilégio nas oportunidades de desenvolvimento humano. O narrador da experiência pergunta ?quem tiver perdido uma vaga de emprego devido à sua cor de pele, dê um passo para trás? e, logo depois, ?quem tiver arranjado um emprego logo após se formar na faculdade dê um passo para frente?. No final da caminhada, os privilegiados ficam na frente e os desprivilegiados ficam atrás. Nota-se, então, padrões nos marcadores de identidade atribuídos aos corpos das pessoas, tais como raça, classe ou gênero, que permitem explicar a desigualdade melhor do que a falta de mérito.

Caminhada do privilégio

Por melhor organizada que seja a Caminhada do Privilégio, ela não é capaz de transformar quem acredita veementemente na meritocracia ou no darwinismo social. Experiências transformadoras não são introduzidas de fora para dentro, senão que desenvolvidas a partir das intenções que as pessoas já tem, principalmente, para confrontá-las com outras intenções.

Destaco três características que notei nas experiências transformadores pelas quais passei ou que conduzi. Em primeiro lugar, a motivação autêntica. Uma experiência transformadora só têm êxito quando a pessoa está disposta a mudar. O motivo da mudança introduzido pela experiência precisa ser mais forte do que o motivo que a pessoa já tem para continuar a ser quem já é. É possível criticar o motivo, mas não é possível ignorá-lo ou eliminá-lo, pois faz parte da história da pessoa. Mais interessante do que combater o velho é fortalecer o novo de modo que este predomine e mantenha a pessoa no caminho até o fim da experiência.

Em segundo lugar, a interação com o diferente. Experiências transformadoras introduzem pessoas, coisas, espaços e atividades diferentes das que a pessoa está habituada a interagir. Ao interagir com o diferente, a pessoa percebe outras possibilidades de ser humano adormecidas ou bloqueadas pela interação com o similar.

Por fim, a terceira característica: experiências transformadoras são aquelas que geram sentido para a vida. Depois de passar por uma, a pessoa se sente como se tivesse realizado algo muito importante, algo que será lembrado pelo resto da vida por provocar uma mudança de rumos, uma auto-avaliação, uma convicção para fazer algo grandioso e a certeza de ter se tornado uma pessoa melhor. Tal resultado não pode ser garantido, mas pode ser almejado por um bom projeto de experiência.

A questão que se coloca para designers de experiência atuando nessa área é: como ofertar experiências transformadoras sem cair na armadilha da comoditização, que diminui a diferença para aumentar a escala? Como não há uma resposta óbvia para essa pergunta, sigo pesquisando o assunto com meus estudantes e com a sociedade brasileira. Quem sabe um dia a gente descobre como superar essa contradição.

Este artigo foi originalmente publicado na Ideia Magazinebook 07 (páginas 109-112).


Autor

Frederick van Amstel - Quem? / Contato - 08/11/2021

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Citação

VAN AMSTEL, Frederick M.C. Experiências que transformam pessoas. Blog Usabilidoido, 2021. Acessado em . Disponível em: http://www.usabilidoido.com.br/experiencias_que_transformam_pessoas.html

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