Por um processo de design dialético

As incursões filósoficas dos últimos posts tem o objetivo de mostrar o que estou tentando desenvolver na pesquisa de Mestrado: uma metodologia materialista-dialética para a prática de design de interação. Materialista porque parte do contato com a realidade concreta através de pesquisas de campo e dialética porque encara a contradição como fator de mudança primordial.

Tal metodologia serviria para guiar um processo de design mais participativo, realista e crítico. O poder que o designer tem em mãos para designar artefatos seria dividido com os usuários dos artefatos, tornando o resultado uma obra conjunta. O designer deixaria de ser quem projeta (sozinho) e passaria a ser um mediador dos que projetam. A transformação do processo de design numa atividade coletiva não eliminaria a necessidade de um designer; pelo contrário, exigiria que alguém guiasse o processo para que não disperse ou se desencaminhe.

Esses ideais estão muito em voga nas discussões sobre Web 2.0, mas pouco se fala nas mudanças das metodologias de projeto. Se o produto é aberto à participação, o design do produto também tem que ser aberto.

Na verdade, algumas iniciativas já adotam modelos mais participativos, seja através de pesquisas tradicionais com usuários (testes de usabilidade, card-sorting, etc), seja através de intermináveis programas de beta. Esses modelos estão sendo desenvolvidos de forma ad-hoc, ou seja, estão sendo recriados em função da experiência prática particular, sem uma reflexão teórica que permita sistematizar uma metodologia que outras pessoas possam aplicar em outras situações. Minha contribuição visa justamente montar esse referencial teórico que possa orientar projetos de design de interação que compartilhem os ideais da Web 2.0.

A necessidade dessa reflexão surgiu de minha própria atuação profissional em projetos Web 2.0 em que estou envolvido. Desde o início, ficou claro que a metodologia tradicional de Design Centrado no Usuário não era suficiente para lidar com os novos dilemas que tais projetos traziam. Como ainda não tenho a "metodologia 2.0" desenvolvida, acabei empregando a metodologia tradicional com alguns arremedos. Em minha pesquisa de Mestrado, pretendo refletir sobre as dificuldades encontradas, desenvolver a tal metodologia, aplicá-la num projeto experimental e refletir criticamente sobre o resultado. Vamos ver no que vai dar ou se vai dar.

Fred van Amstel ([email protected]), 20.09.2006

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