Interação pode ser emocional

Quando você tiver a oportunidade de ouro de fazer o design de um hotsite de filme, não desperdice. O usuário acessa disposto a ser entretido, ter uma idéia do que vai encontrar no filme ou rever cenas. Nesse tipo de job, temos o aval do usuário para quebrar os padrões. Certamente ele não ficará satisfeito se o site do fime Nina for um portal com três colunas.

Felizmente, a maioria dos designers sabe disso e hoje temos a categoria como exemplo de inovação, em todo o mundo. O objetivo é alcançado quando o designer consegue criar a mesma atmosfera do filme, invocando seus símbolos emocionais. Já falei da importância do som nesse sentido, mas não ressaltei que a própria interação com a interface também pode ser emocional.

Na época em que escrevi esse post, nem acreditava que isso fosse possível. Porém, um hotsite coreano me convenceu do contrário: The Uninvited.

Sugiro que antes de prosseguir na leitura desse post, você reserve pelo menos 10 minutos do seu tempo para acessar com calma, senão vai perder a graça. Desligue a mente analítica e entre no clima. Você vai se sentir dentro da história quando forem ativados símbolos do seu próprio passado. Depois da fruição, volte aqui e note as sutilezas da interação que permitiram isso.

 

 

 

 

 

Já acessou?

 

 

 

 

 

 

 

 

Se estiver mentindo, quem sai perdendo é você.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Já disse! Clique aqui seu estúpido!

 

 

 

 

 

 

 

Caso você NÃO tenha acessado o site, deve estar com raiva e a causa disso é um problema intencional de interação. Caso você tenha de verdade mesmo, jurando de pé juntinho, acessado o site, deve estar sentindo várias emoções ao mesmo tempo... e caso você seja o robot do Google... ah, esqueça...

Vejamos como a interação contribui para emocionar:

Na entrada do site, sem nem abrir qualquer popup, já fica claro a idéia central do filme: "todos tem verdades que não gostariam de pensar que são verdaderias". Não preciso nem dizer, mas a imagem sugere que o homem está exigindo que a mulher diga a verdade.

O usuário pode escolher entre saber a verdade (truth) ou os fatos (fact). Que pergunta besta, quem é que não quer saber a verdade? Quem já sabe! Trata-se de uma forma muito perspicaz de segmentar o site entre os que já assistiram o filme e os que não e também entre os que querem ser entretidos e aqueles que estão atrás de uma informação específica. Truth leva a uma série de animações interativas e Fact leva a uma seção com textos, dados e fotos.

É claro que a experimentação toda de que falo, está na seção Truth. Trata-se de várias sequências de animações que usam muito bem texto animado, som de fundo e imagens. De vez em quando, a sequência é interrompida por uma imagem interativa (se é que se pode chamar assim). Nesta, o movimento do mouse faz sugir perguntas que são feitas à personagem, como balas de uma metralhadora. O som acompanha. Só há como progredir se o usuário ver suficientes perguntas.

Numa outra seção, o tema é claustrofobia. A cada clique, surge um novo popup, cada vez menor até que... bem, você viu o site. Não é à toa que escolheram o popup para tal conotação negativa. Morte aos hotsites em popup!

Você está diante de um gravador de som e há fitas espalhadas pela tela. A tela está parada. Não é preciso dizer que você deve colocar as fitas no gravador, essa á reação lógica. As fitas são movidas pelo arrastar-e-soltar, mas caso você solte antes de chegar no gravador, a fita permanece ali. Como a área de clique é enorme, você pode arrastá-la muito facilmente. Ao se aproximar do gravador, elas são puxadas automaticamente. Estes designers sabiam que arrastar-e-soltar é um modo de interação que exige muita destreza do usuário e deram toda a ajuda necessária. O ganho lúdico compensa o esforço extra.

A magia só se quebra quando os designer sentem a necessidade de dizer como o usuário pode interagir. Eles sabiam que no caso dessa porta, não estava clara sua clicabilidade. Já que a experiência conta com várias outras ocasiões onde o usuário pode clicar em coisas incomuns, porque não contar com esse conhecimento prévio? Poderiam ter usado outras dicas visuais...

Outra coisa que me incomodou muito foi o menu, localizado no canto inferior esquerdo. Apesar de se contrair durante as animações interativas, preferia se ele tivesse alguns dos elementos subjetivos que permeiam o site.

Quem gostou desse hotsite, vale à pena conferir outra produção dos coreanos, The Scandal. O clássico Donnie Darko é mais chato, mas explora bem o formato. No Brasil, temos o exemplo da A Agência Click, com o Projeto 404. Alguém mais tem bons exemplos de sites que exploram a interação emocional?

Fred van Amstel ([email protected]), 24.05.2005

Veja os coment?rios neste endere?o:
http://www.usabilidoido.com.br/interacao_pode_ser_emocional.html