Profissionais que me influenciam

Todos tem seus arquétipos, seja na vida pessoal, religiosa ou profissional. Precisamos de referências para saber por onde seguir. Às vezes conhecemos em carne-e-osso essas pessoas, outras vezes só ouvimos falar de seus feitos. Podemos gostar dessa ou daquela característica dessa pessoa. Podemos discordar delas em alguns pontos ou mesmo acreditar em tudo que dizem. Quando se tratam de arquétipos profissionais, é inevitável ter a pessoa como nosso "benchmark" pessoal. É aquele negócio do "um dia quero ser tão bom quanto ele"...

E quando sentimos que conseguimos alcançar essa meta, dá uma sensação muito gostosa. Ficamos com aquela sensação de que estamos indo pelo caminho certo, porque afinal de contas, essa caminhada não acaba nunca. Mal superamos um mestre e já nos submetemos a outro. Porém, não descartamos nosso referencial superado. Pelo contrário, agradecemos de coração pelos ensinamentos, nem que seja só pelo exemplo dado.

Sem medo de parecer puxa-saco, listo os profissionais que mais me influenciam e por que:

Irapuan Martinez
Ele é incansável. Está diariamente nas listas de email combatendo tudo aquilo que vai contra "os princípios básicos da Web", sem medo de queimar o filme com grandes agências. Suas palavras são contundentes e muito bem fundamentadas. Seus emails são bem formatados e, por ora, longos. Como dizem no orkut, é praticamente onisciente, lê muito. Fui convertido aos webstandards graças a eles. Em contrapartida, fico decepcionado quando ele diz coisas como: "Que importa a forma? O que interessa é o conteúdo" ou "A Web não é um veículo visual". Ele pende demais para o lado racional, analítico e não aceita visões mais subjetivas de design. É tão teimoso que se recusa a comentar neste blog, só por causa do "sábias palavras" lá dos comentários, apesar de adorar tirar um sarrinho dos defensores da "não-simplicidade funcional". Entrevistei ele pro FlashMasters há algum tempo falando sobre os pontos-fracos do Flash. Com certeza é o homem-HTMinimalism.
Marcos Albuquerque e Marcos Saura
Os magos da Lifemotion. Nos meus tempos de newbie no Flash sonhava em um dia descobrir como fazer aqueles impressionantes efeitos especiais com tão poucos Kbytes. Com o tempo, fui analisando seus trabalhos e descobri que esse papo de criar emoções não era só piração, mas realmente adicionava valor aos websites. Entrevistei o Saura e descobri que ele também era uma pessoa normal. Fiquei contente. Ídolos não existem. Os últimos trabalhos deles são tão diferentes do que se espera de um website, que pode até ser que criem um novo gênero, caso as soluções tragam benefícios reais aos seus clientes. Com esse objetivo, o Albuquerque está cada vez mais preocupado com navegabilidade e de vez em quando me pede a opinião sobre os novos trabalhos. Diria que fazem parte do estilo Drafting Table Transformer.
Michel Lent Schwartzmann
Apesar de ser sócio de uma das mais conhecidas agências de Internet do Brasil, ainda continua sendo tão humilde quanto nos tempos de ativismo político na Promit. Mantém as listas de email mais importantes da comunidade de produção para a Web do Brasil e de vez em quando até participa das discussões. Trabalha na área desde 1994, quando terminou o mestrado nos EUA. Pensamentos de visionário e jeito de amigão, vide participação no orkut. Me concedeu uma grande entrevista sem cerimônias, nem adiamentos. O que mais me admira nele é seu esforço para encontrar o caminho do meio e apartar as brigas das listas.
Celina Uemura
Consegue conciliar conhecimento técnico, percepção estética e ainda ergonomia numa mesma cabeça. Coisa rara isso. Conseguiu agradar clientes de alto escalão e trabalhou em empresas respeitáveis. Há pouco tempo abriu sua própria produtora, a Ipê Digital. Lê muito e está sempre atualizada com as novas tendências, apesar de na entrevista ter negado seguí-las. Pelo seu site pessoal, enquadraria-a no estilo 1950´s Hello Kit School.
Jonas Galvez
Qualquer um que escreve um bom livro técnico com 15 anos merece louros, mas ele não é qualquer um. Nerds desse tipo são quase como robôs, não se interessam pelo lado humano da vida (!). Além de altíssimo conhecimento técnico em Actionscript e outras linguagens de programação, lê e discute sobre filosofia, sociologia e psicologia mesmo tendo abandonado a escola (ou quem sabe foi por causa disso). Antigamente sua prepotência me incomodava, mas depois que ele assumiu isso publicamente, posso suportá-la melhor ;)
Jakob Nielsen
Um crítico mordaz. Suas palavras são duras e racionais. Mete o dedo na ferida e é irônico, mas fala boas verdades. Se não fosse por ele, não estaria estudando usabilidade. Seu livro Homepage: Usabilidade foi um marco na minha carreira. "Ei, quero fazer isso que ele faz também, tenho jeito pra coisa". Sim, também gosto de criticar, mas tenho uma postura mais holística e construtiva. Enquanto que ele costuma deixar o ego dos designers lá no chão ou provocar uma chuva de tomates, prefiro um caminho mais tranquilo. Discutimos aqui no blog outro dia sobre o seu site pessoal.
Luke Wroblemski
Escreveu um livro bem deglutível sobre usabilidade e publica um blog recheado de reflexões sobre design de interfaces. Ao contrário da maioria do pessoal que escreve e ensina sobre design, ele tem um website pessoal muito bonito e funcional. Além de dar aulas, está trabalhando como designer no Ebay.com, mas sempre ligado no que acontece na comunidade de designers.
Jeffrey Zeldman
Antigamente não gostava muito de seu estilo de design, mas admirava muito o que escrevia e mantinha na revista Alistapart. Parece que de um ano para cá, ele passou a valorizar mais layouts um pouco menos minimalistas, vide o site de sua empresa. Seu livro sobre webstandards muito gostoso de ler e preciso. Me influencia mais justamente na importância de uma Web semântica e estruturada.
Edward Tufte
Seus livros conseguem elevar o minimalismo ao estatuto de princípio básico no design de informação. O minimalismo dele chega a ser extremamente belo, pela inteligência e perspicácia. Ainda não li seu livro sobre design de interfaces, mas li dois sobre gráficos e mapas. O mais legal é que é ele próprio quem banca a edição de seus livros, que acabam sempre virando best-sellers na área. Me marcou uma frase sua: "Quem acha que um gráfico é chato é porque escolheu os números errados". Ele insiste que não é preciso recorrer a enfeites para atrair a atenção para informações interessantes. É mais importante ser claro e preciso. Seu site pessoal abriga uma comunidade de discussões e de vez em quando ele coloca os rascunhos de seus novos livros.

Com certeza, admiro muitos outros profissionais, mas não os conheço o suficiente para escrever o porquê da admiração. Listei aqui os que estão me influenciando no momento. No passado foram outros, no futuro serão outros. Leitores também, apontem seus mentores.

Fred van Amstel ([email protected]), 01.09.2004

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