Perfil semiótico do Usabilidoido

Há alguns meses atrás, prestei consultoria para uma editora curitibana sobre seu novo website. Já contei como as entrevistas com usuários permitiram alinhar os objetivos do briefing com a expectativa dos usuários, só não tinha contado o que havia acontecido na sua sequência, o grupo de foco. Basicamente, confirmamos as suspeitas levantadas nas entrevistas e recebemos muitas sugestões, mas o mais interessante foi uma técnica que propus para descobrir algumas das expectativas dos usuários com relação ao design gráfico do website.

Um dos diferenciais dessa editora é o design gráfico dos livros e revistas que publica. Não precisa nem dizer que os usuários esperam que o design gráfico do site seja de alto nível, mas o que eles classificarão como sendo de alto nível? Como sabemos a apreciação estética é bastante subjetiva, porém existem certos padrões observados em pessoas de perfis similares. Por exemplo, se eu gosto de combinações de tons escuros e você vive num ambiente muito parecido com o meu, provavelmente você também gostará de uma paisagem dark. O objetivo da técnica foi justamente captar alguns desses padrões de apreciação estética e aproveitar que estávamos em grupo para discutí-los.

O método consiste em apresentar aos usuários uma série de pares de fotos, cada uma exprimindo duas qualidades opostas que podem ser atribuídas ao design gráfico. Por exemplo, para o binômio claro/escuro haviam duas fotos, uma cena clara e outra escura. Dentro do grupo de foco, cada participante escolhia uma das fotos do par e discutia com os demais, defendendo seu ponto de vista. As fotos escolhidas por decisão unânime representam as expectativas latentes desse grupo de usuários.

Essa técnica não precisa necessariamente ser realizada num grupo de foco. Pode ser feita com cada usuário individualmente também. A vantagem de ter um grupo é a riqueza das discussões. As fotos permitem que os usuários tenham parâmetros para discutir design gráfico mesmo sem ter nunca estudado seus princípios básicos. Quem já pediu a avaliação de um layout por um leigo no assunto sabe o quanto isso é valioso. Ainda não fiz o teste, mas acredito que possa servir para lidar com aqueles clientes que não sabem explicar o que desejam do design gráfico, mas que serão os primeiros a encontrar defeitos nos layouts depois que ficarem prontos.

Vou testar com vocês, leitores fiéis, se essa técnica pode ser aplicada online, na forma de questionário e espaço para discussão. O resultado influenciará o re-design do Usabilidoido, postergado desde o início do ano.

Para fazer o questionário, perguntei a mim mesmo quais seriam as qualidades que gostaria que o novo design gráfico tivesse. Decidi por essas:

Porém, ao mesmo tempo fiquei com as seguintes dúvidas:

Para escolher as fotos, dei uma olhada em algumas obras de Seurat, o artista da vez. Uma tema recorrente em sua obra é a figura bucólica do lago. Às vezes inspira frieza e esterilidade, às vezes alegria e felicidade. Fiz uma busca no Stock Exchange (excelente comunidade de compartilhamento de fotos) pela palavra lake e comecei a salvar as fotos que tinham a propriedade de exprimir uma qualidade do design gráfico. Fui salvando numa pasta com o nome de arquivo sendo a qualidade que me chamou a atenção. Depois de algumas horas de concentração intensa, consegui formar os binômios abaixo.

Em cada linha, escolha uma das duas fotos, da direita ou da esquerda, que exprima aquilo que você espera do novo design gráfico do Usabilidoido. Responda o mais rápido que puder e tente não pensar a razão porque eu escolhi uma foto em particular. Siga suas preferência pessoais. Depois explico.

Pesquisa encerrada dia 9/08/05. Veja o resultado.

Pesquisa encerrada dia 9/08/05. Veja o resultado.

Pedi para responder rápido para que que a decisão seja feita entre as características mais elementares das imagens, ou seja, aquelas que fazem parte da categoria de primeiridade da semiótica. Segundo a semiótica, a percepção dos objetos do mundo real (objetivação) começa na primeiridade (qualidades superficiais), passa pela secundidade (relações de causa e efeito) e termina na terceiridade (formação de um conceito).

Parece complicado de entender, mas não é. Pense num relacionamento amoroso, por exemplo. Primeiro você é atraído pelas qualidades observáveis da pessoa: cor de pele, tipo de cabelo, formato do rosto, cor dos olhos e etc. Com o tempo, você começa a se relacionar com essa pessoa e percebe suas reações diante das coisas que acontecem. Se tudo der certo, você começará a entender porque essa pessoa reage dessa forma. Se isso nunca acontecer, você pode dizer que o relacionamento não chegou à terceiridade.

Essas categorias podem ser aplicadas à praticamente qualquer coisa. Não é à toa que elas são chamadas de Categorias Universais de Peirce, o filósofo que as criou.

Se você pensar em mais alguns exemplos, vai perceber que, na medida em que sobe o nível de categoria, a complexidade aumenta de forma exorbitante. É muito mais fácil falar sobre a primeiridade das coisas do que da terceiridade. No caso do método aqui proposto, seria muito difícil descobrir as expectativas de terceiridade dos usuários com relação ao design gráfico, ainda mais que se trata de um assunto subjetivo. Um mero binômio de qualidades não pode dar conta da complexidade de uma escolha de secundidade ou terceiridade. É por esse motivo que chamo essa técnica de Perfil Semiótico de Primeiridade.

Bem, agora que foi apresentada a técnica, gostaria de receber sugestões sobre o método e comentários sobre as expectativas em relação ao novo design gráfico do Usabilidoido. Se a discussão passar da primeiridade, quem sabe me animo a pesquisar mais sobre o assunto e compartilhar com vocês.

Fred van Amstel ([email protected]), 02.08.2005

Veja os coment?rios neste endere?o:
http://www.usabilidoido.com.br/perfil_semiotico_do_usabilidoido.html