O Corpo sem Órgãos

Ao ler o post do Jonas sobre seu crescimento pessoal com relação a administração de seu ego, me lembrei de um conceito muito interessante sobre vida no mundo virtual que li no livro Distúrbio Eletrônico (Editora Conrad, 2001). Segundo os autores, a sociedade do espetáculo criou as Celebridades, que não são iguais nem ao personagem que representam, nem tampouco à pessoa original antes da fama.

Nas telas, possuem um Corpo sem Órgãos (CsO), passam a ter outra identidade. Longe das telas, mas em público, tem que manter a pose, e lidam com o encontro do CsO com a carne.

Na Internet, todo mundo pode se tornar celebridade e montar um CsO. Jonas está descrevendo o dele. Ninguém sabe se ele deixou realmente de ser menos egocêntrico depois daquele post no blog dele, mas seu alter-ego virtual com certeza o fez. Nunca mais ele mandará mensagens como as que execrou em seu post para as comunidades virtuais. Seu CsO é um boneco de massa, ajustado perfeitamente para realizar seus desejos. Não é fantástico que isto esteja a disposição de qualquer um?

Pois é, a mensagem do livro é: "vamos entrar no mundo virtual e derrubar o capitalismo numa guerrilha cibernética". Sério, eles sugerem com muita propriedade que os Hackers serão os ativistas políticos do novo século. Combater a elite onde ela age sorrateiramente.

Como não sou um vermelhinho, achei meio doida essa história toda, mas me fez pensar bastante sobre nossa condição virtual. Vou citar alguns trechos que descrevem o Corpo sem Órgãos. Talvez você nerd se identifique :

Atenção, trecho com conteúdo obsceno. Se você tem idade mental abaixo de 12 anos, pare de ler agora.

Voz 1: Pintos nunca mais. Bocetas nunca mais. CsO já. Todas as extensões devem ser cortadas. Todos os orifícios devem ser costurados -- arrolhados. Devemos nos livrar do biológico, esvaziarmo-nos dele. Todo biofascismo deve ser arrancado e lacrado nos vasos de vidro transparente do museu, para que nunca nos esqueçamos do que foi a dor da tirania somática.

Voz 2: Porque a maior mentira de todos os tempos foi enquadrar os humanos como um organismo de consumo: que assimila, incuba, excreta, criando toda uma hierarquia de funções latentes.

Voz 1: Enrtão que nunca nos esqueceremos da fisiologia do capitalismo tardio que morde, chupa e devora -- ela é impulsionada pelo bio-destino do buraco oral: consumo, assimilação, incorporação -- a boca deve ser suprimida, reprimida. CsO já.

(...)

Voz 2: Vamos todos esvazia o corpo, esse nada coagulado, jogá-lo na privada e dar a descarga: sem mais economia de merda, sem mais política de urinol.

Quem quiser comprar este livro intrigante e entender melhor o que eles querem dizer com isso, no Submarino tá saindo por R$21. Altamente indicados para neuróticos com grandes conspirações.

Fred van Amstel ([email protected]), 22.08.2004

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