Design é a síntese das múltiplas definições

Design é um desses termos que vem alargando seu significado progressivamente nas últimas décadas. Hoje, estratégia de negócios é design, organização de informações é design, decorar ambientes é design, cortar cabelo é design... tudo virou design!

Ao invés de tentar conter o alargamento e censurar a utilização do termo “design” para qualquer coisa que não seja um projeto profissional, acho mais interessante tentar entender porque outras pessoas estão se apropriando do termo e o que elas querem dizer com ele.

O termo “design” pode ser usado em, pelo menos, três sentidos: um processo específico de projeto, o resultado do processo e um conhecimento sobre o processo.

No mercado de produtos industrializados, design é utilizado como um atributo. O produto que tem design é um produto diferenciado, de qualidade, especial. A qualidade enfatizada se restringe ao nível formal do produto: ou é um design moderno - denotando uma referência estética específica, ou é um design ergonômico – denotando uma forma que proporciona melhor conforto ao corpo humano. Especificações técnicas e praticidade de uso são colocados como equivalentes ao termo design, ou seja, o processo de design é desconhecido. 

Nos serviços, a noção é um pouco mais abrangente. O resultado não é por acaso; ele é fruto de um processo específico que o anteviu e procurou controlar. Por isso, são considerados aspectos que interferem no resultado, mas que estão além dos atributos do produto, como as culturas, as normas sociais, as referências estéticas, as linguagens e etc. A partir do conhecimento sobre a situação, são criadas propostas para a mudança da situação no sentido almejado. Design é visto, portanto, como meio para atingir um fim.

Porém, existe algo além da abordagem instrumental para o design. Design também é uma forma particular de ver o mundo. A sociedade em que vivemos só é possível pela mediação que os artefatos proporcionam entre as pessoas. O ambiente é projetado, os objetos são projetados, as idéias são projetadas, a vida é projetada, tudo é projetado. Visto assim, podemos tratar tudo como projeto e aplicar as competências do design para recriar o mundo. Segundo Victor Lombardi, são características do design: 1) a colaboração com múltiplos interessados no projeto; 2) a criação de novas possibilidades através do método abdutivo (tentativa e erro); 3) a experimentação crítica com protótipos; 4) a atenção para a particularidade; 5) a percepção dos sistemas sócio-técnicos; 6) a interpretação da situação através de um ponto de vista pró-ativo. Sendo assim, design não é só processo, mas também estratégia, política e metodologia.

Se as pessoas dizem que design é tudo isso, porque dizer que design é menos do que isso? Porque restringir a um tipo específico de design, se podemos perceber similitudes entre tais diferentes interpretações do termo? Talvez o termo “design” esteja se alargando porque o próprio Design como área do conhecimento humano esteja também se alargando. A presença do design na sociedade está sendo cada vez mais percebida e repensada por outras áreas; design está sendo visto como uma das poucas áreas capazes de lidar com a complexidade da vida moderna; a unidade na diversidade de fundamentos que alicerçam o design tornam-o plenamente inclusivo e ao mesmo tempo coerente. Precisamos, portanto, de uma definição elástica de design; tão abrangente e, ao mesmo tempo, específica como a definição do concreto em Karl Marx. Design é - ou pode ser - a síntese das múltiplas definições de design.

Artigo a ser publicado na Revista Design do website da Tramontina Design Collection.

Fred van Amstel ([email protected]), 11.12.2007

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