Restringir o usuário causa mal-estar

O leitor Thiago Matsunaga me mandou um email agora pouco me perguntando o que eu achava da navegação do site da Huge, que inventou uma nova forma de "rolar" a página. Conforme o mouse desce, o conteúdo (antes escondido por uma máscara) é revelado. Ele me disse exatamente o que senti da primeira vez que vi esse site há anos atrás: "me parece que não dá pra se sentir à vontade." Por causa desse efeito, o website ficou tão famoso que foi destacado no livro Designing Web Site Interface Elements, que resenhei ontem. Mas como disse na resenha, ele foi mais um exemplo fraco do livro.

Não realizei testes de usabilidade com o website, mas acredito que à primeira vista, o usuário não percebe que há conteúdo escondido na parte baixa da tela. Como ninguém consegue ficar olhando pra tela sem mexer um pouco o mouse, é possível que ao primeiro movimento da máscara ele já entenda como funciona a rolagem. Estou partindo do princípio que o website tem um público-alvo relativamente experiente em navegação. Apesar de não prejudicar a usabilidade do website, percebi duas falhas nessa abordagem: o efeito subjetivo negativo que nosso amigo reconheceu e a inconsistência entre as páginas de entrada e a do portifólio.

O primeiro problema é o mesmo que a segunda maior causa de morte de fotojornalistas, o atropelamento. O visor de uma câmera mono-reflexa tem apenas 45º de amplitudo contra os 135º da nossa visão normal. É como se o fotógrafo ficasse praticamente cego. Daí ele está na rua fotografando um prédio e pou! Já era. É real gente, aprendi na faculdade. Restringir a leitura não mata ninguém, mas dá esse sentimento ruim. Pra os juízes dos prêmios que eles ganharam, talvez isso seja diferente e excitante, mas acredito que para o executivo alvo do website pode ser um ascinte.

O segundo problema é que como a área mascarada é pequena, não caberia a grande quantidade de bons cases que eles tem. Então eles foram obrigados a criar uma nova página diferente só pra isso. Digamos que antes de clicar nesse link, o usuário clica em "US" e tem o resultado imediato na tela. Quando ele clica em "case studies", ele precisa abrir uma nova página, cujo layout é totalmente diferente. Isso dá a sensação de que foi levado a outro website. Muito ruim tanto para identidade visual da empresa quanto para a navegação do usuário, que agora, não pode mais ver os demais links da navegação principal sem voltar à home.

Fred van Amstel ([email protected]), 29.06.2004

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