Ontologia versus Senso-Comum

Estamos testando um novo formato de pesquisa acadêmica no Instituto Faber-Ludens inspirado no Software Livre. Uma pessoa propõe um tópico de pesquisa, oferece seus resultados de pesquisa encontrados para que outras pessoas possam também contribuir para a pesquisa, trocando informações e experiências. Um dos primeiros projetos é o Conectando Conteúdos que trata dos sistemas de classificação na Web.

Seu criador, Rodrigo Gonzatto, propõe uma evolução das folcsonomias com a inclusão de subtags que descrevem melhor o objeto a que se refere as tags. Reproduzo abaixo meu comentário sobre a proposta. Desabilitarei os comentários neste post, pois estes devem ser feitos no próprio projeto, que é como disse aberto a participação de todos (e licença Creative Commons claro).

Na Computação esse debate é recorrente, mas com outros termos. Para discriminar as coisas, os computadores precisam de categorias explícitas. Porém, eles não são bons em se comunicar conosco porque boa parte das categorias que nós seres humanos usamos para nos orientar, comunicar, interagir são implíticas, dependentes de uma relação tácita com o contexto social.

Edmundo o jogador animal

A categoria animal numa aula de biologia é diferente da categoria animal em futebol, porém, existe uma relação entre elas. Quando a torcida começou a gritar que "Au au au o Edmundo é animal", certamente não estavam se referindo à categoria biológica, porém, estavam referenciando-a. Se não tivessem tido a experiência com a categoria biológica anteriormente, o sentido não seria o mesmo.

É por isso que não se pode precisar o significado de um signo qualquer, pois ele não é único e nem dado. O significado do signo não está nele, nem tampouco num intérprete, mas sim na relação entre eles. O significado está no contexto (social).

Você está tentando resolver o problema da folcsonomia aprimorando sua capacidade de representação do mundo. Isso a computação tentou fazer através do conceito de Ontologia. A proposta é definir as categorias universais mais básicas e abrangentes, capazes de classificar tudo em seu esquema, sem exceções. Claro que isso logo se demonstrou impossível e então, passou-se a criar ontologias por áreas do conhecimento, reduzindo o escopo. A Web Semântica é uma das propostas mais humildes dos estudos ontológicos em Computação.

Mesmo a Web Semântica o pessoal tá percebendo que é meio inviável, não porque as pessoas tenham preguiça de escolher em que categoria classificar os conteúdos da Web, mas porque isso seria extremamente difícil. Em que categoria colocar o Edmundo? Biologia ou Esportes? Parece coerente com o esquema colocar na categoria Esportes, porém, não é somente pela coerência que categorizamos as coisas. Quebramos a coerência justamente para dar sentidos outros.

O máximo que um computador é capaz de fazer num esquema de classificação é a recursividade, enfim, perceber que esta classificação é uma classificação da classificação. O que ele não consegue perceber é que estamos dando um pulo do gato, estamos indo para outro sentido. Estamos fugindo da classificação sem necessariamente cair em outra.

Nem tudo no mundo é classificável! O mundo é maior que nossas categorias. O bebê já nasce sabendo isso, mas o computador não. Claro, ele foi construído por quem não aprendeu (ou não se contentou) com isso.

Os sistemas de classificação que tem tido mais sucesso hoje são aqueles que admitem essa posição humilde e tentam categorizar um conjunto infinito e impreciso de dados, sem o comprometimento de gerar um esquema absoluto.

Um exemplo disso são as folcsonomias que, ao invés de contribuir para a emergência ou manutenção de um esquema, contribuem apenas para expandir horizontalmente o que se sabe sobre o mundo.

Outro exemplo são as bases de senso-comum como a OpenMind do MIT. As pessoas cadastram idéias bem simples do tipo: "um carro serve para andar". "servir é ter utilidade". "andar é ir de um lugar ao outro". Aí o computador cruza estes dados e consegue obter algum significado sobre um novo texto dado. Uma versão parecida com o OpenMind foi feita também para classificar emoções e afetividade: OpenHeart. Dá pra fazer coisas bem legais com isso, pena que não encontrei nenhum link aqui pra mostrar.

Fred van Amstel ([email protected]), 10.12.2008

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