Metáforas servem para dispensar ajuda

A Macromedia está fazendo uma campanha muito grande para abocanhar contas governamentais. Ela se baseia no argumento de que a maioria dos sites em HTML puro falham por que não oferecem usabilidade suficiente. O problema é que não adianta dar a ferramenta de RIA (que realmente pode melhorar a experiência do usuário), nas mãos de quem não sabe usar. Veja por exemplo esse website informativo sobre como funcionam as cortes inglesas:

cortes_inglesas_online.jpg

Só para começar, você é obrigado a ver uma introdução que dura minutos explicando como usar a bagaça. Existe uma opção de pular, mas ela está tão escondida que aposto como poucos vão usar. Instruções de navegação só são aceitáveis se forem muito breves e se aterem a explicar a metáfora de navegação. No caso do site das cortes, parece que os designers pensa que todo usuário é igual ao Seu Batista, da escolinha do professor, que não entendia nada se não fosse "tudo explicadinho, nos mínimos detalhes" (era ele quem falava isso né, gente?).

Mais uma lição de usabilidade: projetar pensando no usuário não significa partir do princípio de que os usuários são burros e precisam de ajuda. Pelo contrário, quando uma interface precisa ser explicada, ela é que é burra. Interface boa é auto-explicativa, ou quase. Na Web, mais ainda.

Anota aí: quando você sentir necessidade de colocar alguma ajuda de como interagir com algo, tente refazer seu trabalho, algo deve estar errado. No caso do site das cortes o problema foi o seguinte: na tentativa de criar uma "experiência engajante", os designers resolveram quebrar com o máximo possível de padrões das interfaces que estamos acostumados. Apesar de fazer isso em certa medida incentive a exploração, o tiro sai pela culatra se o comportamento dos objetos for diferente do esperado pelos usuários. O botão verde, por exemplo está grafado como um botão Play [ > ], mas na verdade seu comportamento é de "Fast-forward" [ >> ].

Não tenho certeza se os designers tentaram conscientemente usar a metáfora de televisão/vídeo K7 nesse site. O fato é que os botões do lado direito e a foto no centro, com certeza remetem à isso. Agora ela não é consistente, porque lá em cima há uma penca de botões que não tem nada a ver com a metáfora, fora o formato redondo. Por isso, no final das contas o usuário não se beneficia de uma metáfora coesa que abraça a interface.

Se a Macromedia continuar a vender RIA desse jeito, vai acabar por perder mercado, porque elas vão falhar do mesmo jeito e até pior que as versões em HTML. Aliás, até que a versão em HTML do site das cortes não é tão ruim assim né? Pelo menos é mais rápida.

Fred van Amstel ([email protected]), 18.06.2004

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