Lições da natureza: o exemplo da banana

Esses dias parei o trabalho para fazer um lanchinho e ao olhar para a fruteira, me deu um estalo: o design da banana é perfeito! Além de ter um gosto delicioso e inconfundível, ela é muito fácil de comer e manusear. Ela pode não ser tão prática quanto uma mimosa (tangerina, mexerica), nem tão atrativa quanto uma maçã, mas é muito melhor do que muitos lanches inventados pelo homem.

Enquanto uma banana custa no máximo R$0,15, uma barra de cereal ou chocolate industrializado custa pelo menos R$1. A produção de bananas em larga escala pode ser feita mobilizando menos recursos naturais do que um cereal industrializado que requer toda uma cadeia de fazendas, fábricas e equipamentos que destróem os ecossistemas onde são implantados. Apesar do sabor não ser tão intenso quanto os dos lanches artificais, o custo-benefício da banana é superior.

Agora o que mais me chama a atenção nessa fruta é a performance de seu design de interação. Se você não fugiu das aulas de Biologia, deve lembrar que a função da fruta na planta é espalhar as sementes, para que a espécie se alastre. O animal come o fruto e cospe as sementes ou elimina-as junto com as fezes. Quanto mais longe o animal levar as sementes, melhor para a planta.

Aqueles pontos pretos na polpa da banana que comemos não são sementes, são óvulos não fecundados. As espécies de banana que cultivamos são estéreis e reproduzidas assexuadamente (corta-se um pedaço da raiz e planta-se em outro lugar). Porém, acredite, existem espécies de bananas que produzem semente, veja:

Banana com semente

Não entrarei no mérito da discussão se a banana que nós comemos é mais ou menos natural do que essa acima, porém, acho que ainda assim ela é um excelente exemplo de design de interação perfeito para animais como nós.

A cor da banana indica precisamente seu estado de amadurecimento. Enquanto verde, não é própria para o consumo. Quando está boa, exibe um amarelo forte, enaltecido pelos detalhes em preto. Segundo pesquisas de design da informação, preto e amarelo é a combinação que apresenta o melhor contraste para discernimento de formas (ex: legibilidade).

Cacho de bananas

O cacho da banana permite carregar várias bananas de uma vez só, suportando mais peso do que um pack de cerveja como este:

Pack de cerveja da Amstel

Se as garrafas não tivessem o afinamento do gargalo, seria muito mais difícil retirá-las do pack porque os dedos não poderiam ser introduzidos entre as garrafas. As pessoas costumam virar as caixas de cigarro para baixo, para poder pegá-los porque eles não tem esse afinamento.

Caixa de cigarro virada pra baixo

Além da banana ter o afinamento na ponta, ela possui uma curvatura muito sedutora à pega (seja com conotação sexual ou não).

Segurando uma banana

Esta faca ergonômica também aproveita a curvatura para melhorar a pega, mas sua superfície não é tão macia e aderente (não escorregadia) como a da banana:

Faca ergonômica com curvatura no cabo

O encaixe dos dedos permite que o máximo possível da força exercida sobre a faca seja direcionado para onde ela é necessária, ou seja, na lâmina. No caso da banana, é impressionante como a força exercida para arrancar a banana do cacho não a danifica. Antes do amadurecimento completo, a banana está bem presa ao cacho para não cair, logo essa força não é pequena.

Banana solta do cacho

Ao invés de amassar a banana, a força exercida sobre ela provoca a separação exatamente no local onde melhor facilita sua abertura. Se após a separação, permanecesse o pedúnculo que une a banana ao cacho, as bordas da casca não gritariam para mim: puxe-me, puxe-me! Se já há uma abertura na casca, a tendência é que comecemos a arrancar a casca por aquele lugar. Genial!

Descascando a banana

Quando puxamos uma borda da casca, ela destaca-se suavemente do fruto, como se tivesse sido picotada igual a algumas caixas de cereal.

Caixa de cereal com abertura por destaque

Pela falta de uma indicação visual clara de como abrir (como aquela das bordas da banana), pessoas afoitas costumam ignorar os sistemas de abertura e abrem essas caixas mais desse jeitinho delicado:

Caixa aberta de forma tosca

Mesmo mostrando o modo "certo" de abrir as caixas para seu filho, essa mãe lamenta que ele continua rasgando as caixas, enquanto grunhe de insatisfação. Para ela, isso é uma característica masculina, mas para mim, a embalagem é que foi mal feita. Você já viu algum menino ou menina tendo dificuldades para abrir uma banana? Até os macacos conseguem.

Macaco comendo banana

Aliás, dizem que eles são especialistas nisso. Há quem diga que eles possuem uma técnica especial para descascar as bananas sem que fiquem grudados aqueles fiozinhos amargos nela. O segredo seria começar pela ponta que não fica grudada no cacho, aquela que tem um bico preto.

Eu particularmente prefiro deixar esse bico preto para segurar a banana, deixando a casca como uma flor desabrochada.

Banana no finalzinho

Quando chega nesse ponto, um leve aperto faz o último pedaço de banana pular para dentro de minha boca. É muito divertido!

De qualquer forma, é interessante ter a possibilidade de fazer a mesma coisa de formas diferentes pois cada um faz do jeito que melhor se adapta. A falta dessa flexibilidade é um dos principais motivos de falha na busca por informações em websites que conectam suas páginas apenas pela hierarquia.

Estrutura hierárquica

A banana não é assim por acaso, como pensam os Darwinistas ortodoxos. Concordo com eles que essas características seriam responsáveis pelo sucesso da espécie (perpetuação), mas não há como observar tamanha inteligência sem atribuí-la a um ser inteligente. Pra mim, esse alguém é Deus. A natureza pode não parecer perfeita do nosso ponto de vista humano, mas se nos distanciamos do nosso próprio egoísmo, podemos contemplar uma perfeição absoluta e aprender muito com ela.

Fred van Amstel ([email protected]), 30.12.2005

Veja os coment?rios neste endere?o:
http://www.usabilidoido.com.br/licoes_da_natureza_o_exemplo_da_banana.html