Escopo da Arquitetura da Informação

Irapuan Martinez levantou uma discussão interessante na Aifia-pt sobre o escopo da Arquitetura da Informação, a área de atuação da disciplina.

Proposição:
Arquitetura de informação só tem sentido em sites com grande volume de informação. Hotsites ou outros cujo o conteúdo se restringe a poucos itens para se navegar, não há material para a AI se desenvolver.

(...)

Sempre tive essa impressão que AI se mostra mais a vontade em lidar com complexidade, mas na simplicidade e na objetividade, não há o que ser organizado.

(...)

Se a interface prima por objetividade, tende a cortar os excessos. Poucos elementos, pouca coisa para hierarquizar. Sem ter o que organizar, o que a AI tem de recurso a ser utilizado?

Imediatamente, os Arquitetos da Informação de plantão começaram a justificar sua utilidade nos projetos Web, mesmo pequenos.

A duração ou escopo do projeto não é empecilho para
o seu planejamento adequado. Na minha experiência, hotsites pequenos onde a dupla de design estava completa (AI+designer) deram mais certo do que quando o design estava sozinho. Isto porque a parceria tornou o trabalho mais rápido e ágil e o resultado foi melhor. É claro que não foi necessário fazer todos os wireframes e deliverables de AI, mas a participação do AI é fundamental.
(Isabel Löfgren)

Quando nós pensamos em AI na web, pensamos nos quatro componentes fundamentais (Sistemas de Organização, de Navegação, de Rotulação e de Busca) e em todas as técnicas existentes para construí-los (vide o livro do urso polar). Quanto maior é o site, mais trabalhoso é o projeto e são nesses casos em que as técnicas apresentam melhores resultados. Porém, como outros já disseram aqui, eu vejo a AI mais como uma filosofia de vida (exajerei :-) ) que um simples conjunto de técnicas.

Organizar todo mundo sabe. Essa é uma habilidade natural dos seres humanos usada para simplificar nossos processos cognitivos, nossa memorização e facilitar nossa interação com o mundo. Desde pequenos nossas mães nos ensinaram a organizar nossos quartos e nossas professoras nos ensinavam a organizar nossos cadernos. Mas se todo mundo sabe organizar, porque os sites pessoais, blogs e fotologs normalme nte são tão desorganizados ?

É ai que entra a AI. Uma coisa é organizar as coisas para você, outra é organizar para para outras pessoas. Ao organizar para outros você precisa entender suas necessidades, comportamentos e linguagem. É nesse ponto que entra a filosofia e isso se aplica tanto a coisas pequenas quanto grandes.
(Guilhermo Reis)

A questão é que a disciplina arquitetura de informação na verdade é múltipla, compreende várias disciplinas. Dessas disciplinas, algumas (as que vieram das library sciences, organização de conteúdo etc.) de fato não se aplicam aos sites muito pequenos ou hotsites, e nisso o Irapuan tem razão. Mas, por outro lado, as disciplinas relacionadas ao planejamento de interfaces continuam sendo pertinentes sim, mesmo para sites pequenos.

Para ver isso, é só pensar que é perfeitamente possível um site pequeno ter uma usabilidade péssima. Isso já indica que existe um espaço para o arquiteto de informação atuar, julgando a disposição visual das informações e a navegação.

Na verdade, o processo de selecionar quais disciplinas serão usadas de acordo com o projeto é a coisa mais comum no nosso trabalho. Ninguém vai sair fazendo vocabulário controlado num hotsite de carro, por exemplo. Portanto, nesse caso o pensamento é o mesmo de todo dia: excluir certas metodologias e incluir outras, usando nossa experiência profissional para julgar o que é mais adequado.
(Marcelo De Polli)

Se compreender o conceito de Arquitetura da Informação já é difícil, imagine concebê-la como uma área multi-disciplinar. Estou escrevendo este post pois imagino que o leitor pode estar se sentindo como o Rafael Ferraz:

Existe uma grande confusão ao meu ver sobre o que é usabilidade, experiência do usuário, design de informação, arquitetura de informação e sempre que surgem essas discussões vemos um grande angu de conceitos.

Será que uma pessoa formada em ciência da informação(meu caso) está apta a discorrer sobre usabilidade? sobre experiência do usuário? Sobre design de interface???? Será que um designer gráfico de formação se sente a vontade para discorrer sobre indexação, semântica e outras disciplinas da ciência da
informação? Será que qualquer um dos dois tem embasamento conceitual para discutir comportamento de usuário???? Outra coisa que se faz muito na lista é associar ai com planejamento, organização e disciplina !?!?!?! É isso?

Se estamos falando de fazer Web, não poderia deixar de ser diferente. A Web é o meio que por excelência (ou desgraça) promove o excesso de informação. Quando criaram a Web, ninguém pensou em criar uma profissão pra construí-la, mas se fez necessário. Profissionais das mais variadas disciplinas vieram e ainda estão brigando pelo bife. Quando pararem de discutir as diferenças e procurarem as semelhanças, as coisas podem ficar mais definidas. Enquanto isso não acontece, temos que saber lidar com essa multi-disciplinaridade, como bem observa a Isabel:

Eu acho que hoje em dia, todo profissional de web tem que sacar um pouco de tudo isso o que você pergunta. Um AI sem experiência em usabilidade fica com algo a desejar, assim como um consultor de usabilidade sem noção de AI e negócios não vai conseguir avaliar certas questões, e um designer que não sabe bada de AI ou usabilidade também vai ficar com algo "faltando".

A cada um a sua expertise, mas, em um empreendimento tão integrado como a construção de uma interface, não dá para sempre ter um approach de linha de montagem: um faz a tarefa 1, o outro faz a tarefa 2, o terceiro faz a proóxima tarefa, etc...Pelo contrário, o ideal é todo mundo planejar junto, e depois partir para sua área de expertise com uma definição concreta do que vai ser feita, já com visão integrada. Não é esperado que um AI discorra sobre design ou vice-versa, mas que preste atenção no trabalho e nas limitações de certas questões para que tudo seja sinérgico.

Acredite se quiser, a origem do termo Arquitetura da Informação veio do Design Gráfico e não da Biblioteconomia, bem lembrado pelo Guilhermo:

Lembrem-se que a AI não se limita a web, aliás ela já existia antes da web. Ela tem aplicações grandes e pequenas que vão muito além das páginas de um site. Wurman tem um livro chamado Information Architects só exemplos de aplicações da AI em diversas áreas. Vai desde um pequeno mapa de metro até o lay-out de um grande museu. Passa por imagens para diagnóstico médico, diversos materiais gráficos e até um site.

Porém, ressaltei que o termo hoje mudou de significado:

Wurman é um designer (com formação em arquitetura) que se auto-intitulou Arquiteto da Informação para salientar a diferença entre seu trabalho, mais preocupado com a estrutura, do designer tradicional, mais preocupado com a beleza. Porém, ele deveria ter usado o termo existente Designer da Informação.

Design da Informação é uma disciplina que estuda como maximizar o entendimento de diagramas, gráficos, infográficos, tabelas, sinalização pública, e inclusive, interfaces interativas.

Só alguns anos depois do livro do Wurman é que o pessoal começou a usar o termo para definir esse pessoal que veio aplicar alguns conceitos da Biblioteconomia (LIS) no meio Web.

E o Guilherme completou:

Sim, foram o Rosenfeld & Morville que possuem formação em Ciência da Informação (acho que ambos são doutores na área). Eles tem uma certa rixa com o Wurman, que na minha opinião é muito mais marketing que outra coisa. Um querendo se firmar sobre o outro. Para a mim a origem do termo é do Wurman, ele iniciou o trabalho. O Rosenfeld & Morville estão fazendo um excelente trabalho em trazer esses conceitos para web e aplicar teorias da Ciência da Informação, mas eles não tem o direito de se apropriar da autoria do termo.

Nesse ponto, a discussão cessou e talvez você tenha esquecido como e porquê começou tudo isso. Um pouco antes, o Irapuan havia revelado sua intenção:

Tive idéia para esta discussão visitando um site de uma produtora qualquer ontem. Ela contava como vantagem, quase expondo como diferencial, usar AI em seus trabalhos. Mas um certo volume de trabalho em seu portólio eram de hotsites e banners.

Daí entrei no mérito desta questão? Aonde o AI cabe em conteúdos pequenos?

Antes disso ainda, levantei que se você pegar só a casca do Google, vai ver que ele é de fato um site simples. O miolo é complexo (e bota complexo nisso), mas a casca é simples. O Irapuan admitiu a possibilidade dessa simplicidade ser justamente devido a um excelente trabalho de Arquitetura da Informação, como por exemplo, o Vocabulário Controlado dele que sugere correções ortográficas.

[ nota ] Como é fascinante a forma entrópica que os assuntos são discutidos em listas de discussão... A conclusão tava no meio, o fim no começo e o meio no fim. Não sei se o trabalho de estruturar essa discussão neste post pode ser classificado como Arquitetura da Informação, mas que deu trabalho deu.

Fred van Amstel ([email protected]), 13.05.2005

Veja os coment?rios neste endere?o:
http://www.usabilidoido.com.br/escopo_da_arquitetura_da_informacao.html