Guilherme Marconi
Webdesigner, estudando para ingressar na Faculdade de Cinema

21 anos
Cabelo castanho
Olhos castanhos
1,75m / 78kg
Email: [email protected]
Homepage: cloning.com.br

Arte digital brazuca

Marconi Cloning é um rapaz humilde e bem-humorado, mas tem uma queda pela arte. Digo "mas", porque faz malabarismos para conciliar sua expressão artística com o trabalho de designer. "Gostaria de ganhar algum dinheiro com isso, mas por enquanto faço só pelo prazer de fazer," lamenta.

Mês passado, ele organizou a Expo Arte Digital, em Nova Friburgo (RJ), que reuniu os principais expoentes desse novo movimento artístico. Foi a primeira exposição do gênero no país.

Seu mais novo projeto artístico é um resgate do construtivismo russo, em conjunto com Daniel Santiago, da Antz e do Monovolume.

FlashMasters: O relacionamento homem-computador é marcado pela racionalidade, há pouco incentivo à emoção. Como isso afeta as obras dos artistas digitais?

Guilherme Marconi : O computador para os artistas digitais é simplesmente uma ferramenta assim como o pincel para Van Gogh. Por isso, o computador frio e racional não afeta em nada as emoções do artista, só está ali para transformá-la em algo concreto.

FM: Mas e quanto à percepção do público no meio digital? O uso do computador é muito racional.

GM: Sim, normalmente os espectadores não conseguem perceber os conceitos da peça, as emoções que elas provocam.

FM: É preciso usar abordagens chocantes como jodi.org para provocar emoção no público da Web?

Escola Bauhaus

A pedidos do entrevistado, um breve texto sobre as idéias da revolucionária escola alemã.

Ela foi a mais influente escola de desenho industrial do século XX. Criou
elementos que alteraram drasticamente arquitetura, decoração e artes. O maior trunfo foi colocar a beleza a serviço da praticidade. Criaram móveis confortáveis com formas geométricas e simples, por exemplo.

Priorizavam a inteligência, a funcionalidade do design. A produção do produto poderia ser em série, mas mantinha ainda beleza estética.

A proposta acadêmica lá era bem diferente de qualquer faculdade da época. O aluno não era obrigado a cursar aulas, eles inventaram o conceito de workshop. Eles iam assistir as aulas que interessavam e aprendiam o que estavam a fim. O curso da Bauhaus não tinha tempo certo para se concluir.

A Bauhaus ainda existe nos Estados Unidos. Na Alemanha, ela foi fechada por Hittler pouco antes da IIª Guerra Mundial.

GM: Não. O exagero não é necessário. Simplicidade, bom gosto e conceito transmitem a emoção ao espectador. Tento sempre empregar o "menos é mais" da escola Bauhaus (veja caixa ao lado).

FM: Cite exemplos que ilustrem esse ponto de vista.

GM: Microbians tem estilo própio de ilustração, simplicidade e coerência visual. Librium Design Studio é objetivo mesmo com toda a riqueza de detalhes nos desenhos. Isso me lembra bastante as pin-ups. Pucacaclub é simples e ao mesmo tempo visualmente atraente, o destaque é o conceito das imagens. Adoro o estilo de arte japonesa!

FM: Alguns desse site que você citou misturam conceitos de arte e design. Até que ponto uma peça é arte ou design?

GM: É dificil dizer. Cada vez mais o design incorpora elementos de movimentos artísticos nas suas criações. Anúncios publicitários estão utilizando desde à arte deco até a pop-art.

Design digital e vídeografia

FM: O design digital sofreu influência do design de embalagens na medida em que é comum ver elementos gráficos como setas, caixas, áreas hachuradas e etc?

GM: O design digital é um grande mix de vários tipos de manifestações. Cada vez mais vemos a influência da Web no vídeo design (MTV) e na mídia impressa (revista Trip). O design, no fundo, é o mesmo, mas dialoga com suas diferentes formas de manifestação.

FM: Designers renomados como Tales Simon e Nando Costa migraram da Web para vídeo. Isso é tendência profissional?

GM: O merdado de videografismo brasileiro é muito carente e não possui tantos nomes como no resto do mundo. Se considerarmos que a Web tem se tornado cada vez mais rápida e barata até mesmo para as massas, a tendência é que se torne uma TV interrativa. Enquanto isso não acontece, profissionais como os que você citou, migram certo para uma área muito promissora. No Brasil, já há grandes produtoras de vídeo, como a Lobo e a Seagullsfly .

FM: Porque você acha que a Web vai se tornar uma TV Interativa?

GM: A banda larga cria essa possibilidade. No Japão, hoje, as conexões mais lentas são de 1 Mb. Com essa banda, é possível transmitir vídeo, sem problemas. Assim, cada vez mais a idéia de uma programação interrativa na tela de um monitor é possivel. Porém, ainda vai demorar bastante para isso acontecer.

Exposição de Arte Digital

FM: A arte digital é analógica?

GM: Sim e não. Na Exposição de Arte Digital , imprimimos banners com obras 100% produzidas com computadores. De certa forma, ficaram analógicos, porém, não deixaram de ser digitais.

FM: Não seria melhor se essa exposição tivesse monitores como suporte para exposição?

GM: Talvez, mas a idéia da organização era manter a essência da arte. Transformar banners em verdadeiras obras pintadas sobre tela com tinta, a mais pura e antiga forma de arte.

Excesso de Informação

FM: A ferramenta para se criar arte digital é cara, em comparação com as da analógica. Isso elitiza a arte digital?

GM: Infelizmente sim.

FM: Então, a partir de um viés marxista, a arte digital não pode será libertadora por enquanto?

GM: A arte digital é libertadora enquanto novo meio de expressão. ela liberta dos antigos pincéis, tinta, tela e lápis e nos insere em um novo contexto. Esta é a revolucao da informática na arte.

FM: Qual é esse novo contexto?

GM: Os novos artistas não vivenciam o estudos, as reflexões sobre o mundo que os antigos vivenciavam. O artista digital convive entre a arte aplicada profissional e o anseio de expressão verdadeiramente artística. Tudo isso em meio à grande descarga de informação. Talvez seja por isso que seus trabalhos sejam tão caóticos e confusos. Ora se vê influencia de art pop, ora se vê influência de TV, ora se vê influência de
contrutivismo, impressionismo e por aí vai.

Estilo de vida

FM: Muitos artistas analógicos tem estilo de vida pouco convencionais. Isso acontece com o artistas digitais?

GM: Eles são cidadãos urbanos e preferem vivenciar o extremo do caos que a sociedade atual permite ao invés de se isolar em ilhas como Gauguin fez. Acho que isso também é uma escolha de vida atípica, afinal quem é que não gosta de sombra e água fresca?

FM: Hoje há muitos jovens que tiveram intenso relacionamento com computadores desde cedo e viraram designers, os nerdesigners. Que influência esse tipo de perfil provoca na cultura de design/arte?

GM: Não creio nesses estereótipos. A diversidade de pessoas que trabalham nesse meio é incrivel. Mas é fato que por passar horas de dedicação diante do monitor, ficamos meio pálidos, sedentários e míopes. :-P