Design impresso e design Web

Gustavo Machado começou a trabalhar com design gráfico há 13 anos e se especializou em design de interfaces. Nos trabalhos comerciais, Gustavo tenta ao máximo adaptar o design à identidade da empresa, sempre comedido. Nos trabalhos mais autorais, explora estilos e nuances diferentes numa mesma peça. Essas peças renderam para ele participação em 6 de livros de design nos Estados Unidos.

Gustavo venceu importantes prêmios de ilustração nos Estados Unidos com uma peça intitulada "Designer Brasileiro", que mostra a face de um índio mesclada com grafismos futuristas. A figura que ilustra o seu portfólio expõe contrastes do nosso país: riqueza X miséria, natureza X metrópole, passado X presente.

Já trabalhou para grandes agências de publicidade e lecionou na PUC de Campinas. Atualmente trabalha no Canadá.

FlashMasters: Quais são as diferenças entre o design impresso e o design de interfaces?

Gustavo Machado: A interatividade. A capacidade de interagir com o público, obter opiniões através de comentários, sugestões, páginas mais acessadas torna o design mais dinâmico. As informações são quantificadas e analisadas e o design, realinhado se necessário.

FM: Designers vindo com experiência em mídia impressa encontram dificuldades para se adaptar ao Webdesign. Porque isso acontece?

GM: Como qualquer outra área de especialização, o Webdesign possui suas especifidades. À primeira vista parece algo simples, mas na verdade o designer precisa colocar diversas variáveis em equilíbrio: arquitetura de informação, design da interface, redação, tecnologia. Além de dominar esse repertório técnico, ele precisa trabalhar num ambiente colaborativo.

FM: Você acredita que há influência do design impresso no design da Web?

GM: O design impresso fornece base sólida em teoria das cores, diagramação, tipografia, direção de arte e etc. Essas teorias influenciam o design da Web, mas ele também possui outros influenciadores. O design de movimento (webmotion) que cresce com a banda larga, é influenciado pelos comerciais televisivos e cinema, por exemplo.

FM: Nando Costa, que se tornou famoso pelo seu webmotion, hoje está trabalhando na área de produção de vídeo. Seu estilo é marcado por grafismo com formas geométricas. Para ele, essa tendência é influência do suporte, no caso o vetorizador Flash. Você concorda com ele?

GM: Sim, infelizmente. Muitos julgam o suporte mais importante do que o produto final, e isso está errado. A partir de um conceito é que se dever analisar qual é o suporte mais adequado para desenvolvimento do projeto.

FM: Você recomenda seguir as tendências do design?

GM: Não, fica tudo muito pasteurizado. Vejo tantos sites em Flash parecidos: fundo cinza, letras extremamente pequenas, mesmos efeitos de transição. No nosso mercado, existem tantas referências para nos basear e tanto espaço para inovação que é lamentável ver tantos projetos semelhantes. Onde esta a criatividade? O conceito por trás da proposta? Trata-se do aspecto negativo da globalização.

FM: Como fortalecer a capacidade de gerar novos conceitos?

GM: Estando atento ao mundo ao seu redor. Prática e sem dúvida alguma, talento. Ou você tem talento para trabalhar com criação ou não, aprimoramento existe até certo ponto.

Cor

FM: Material impresso é luz refletida. Monitor é luz emitida. Como o designer deve encarar essa mudança na conversão de uma identidade visual impressa para digital?

GM: Dada a multiplicidade de equipamentos conectados à Rede, torna-se impossível apresentar o mesmo resultado. Macs e PCs possuem diferenças consideráveis a respeito de gama de cor, por exemplo. O Designer tem que admitir que o controle não está em suas mãos.

FM: É comum ver cores contrastantes como vermelho e azul na mídia impressa, mas na Web isso é raro. Porquê?

GM: Em virtude da luz ser emitida, certas cores vibram muito. Vermelho é uma cor em geral muito forte num monitor.

FM: O fundo cinza-claro aparece com frequência em páginas Web, mas nos impressos, quase não é usado. Há alguma razão para essa tendência?

GM: O cinza por ser neutro funciona bem neste momento em que os websites seguem um estilo mais clean. Em termos de legibilidade de texto também é adequado.

FM: As interfaces de software no Windows tinham fundo cinza por muitos anos. Era padrão até pros fundos das páginas nos primeiros browsers. Agora, com a mudança da cor de fundo padrão para amarelo-claro no Windows XP, você acredita que o webdesign será influenciado e veremos amarelo onde hoje é cinza?

GM: Creio que não. Não acredito que a cor cinza padrão tenha influenciado o webdesign, da mesma forma que não acredito que a interface do Windows XP possa influenciar o design futuro.